A Sociedade Missionária da Boa Nova foi fundada pela Santa Sé com intervenção directa e pessoal do Pio XI, o Papa das Missões. O esforço missionário da Igreja em Portugal, sobretudo através dos Colégios das Missões que formavam padres diocesanos para se dedicarem alguns anos à actividade missionária, deu os seus frutos. Mostrava, porém, algumas lacunas na organização e na orientação do trabalho dos missionários e no amparo depois na velhice. Alguns dos missionários mais antigos começaram a fomentar a ideia da criação de uma Sociedade Missionária como algumas que já existiam noutros países. Pio XI erigia-a canonicamente em 1930. No início, os seus membros eram apenas missionários de origem portuguesa. Nos últimos anos a Sociedade Missionaria tornou-se internacional, passando a admitir membros dos países onde trabalham os seus missionários
1 - Fruto do sentido missionário das dioceses Em Portugal, foram extintas no séc. XIX as Ordens e Congregações, e, com elas, suspensa a epopeia missionária nos territórios ultramarinos. Como acudir-lhes? Missionários, precisavam-se e requeriam-se; religiosos, eram fanaticamente proscritos. Surgiu assim o “Real Colégio das Missões (Cernache de Bonjardim 1855), para ordenar padres seculares que fossem missionários sem serem religiosos. Em 50 anos (1855-1911) ordenaram-se mais de 300, valentes e generosos, mas isolados e sem uma associação que os congregasse, organizasse e apoiasse, espiritual e materialmente. Alguns sonharam coisa diferente: uma sociedade Missionária de Padres Seculares (como muitas que havia no estrangeiro). D. António Barroso, um dos mias completos e lúcidos missionários de Cernache, acalentou esse sonho. Outros o acompanharam, e se bateram pela mesma ideia. Mas a onda anticongregacionista dos princípios do século XX fechou o Colégio de Cernache, o núcleo possível da projectada Sociedade. O sonho ficou adiado, mas não terminado.
2 - Nascida em 1930: Aberta ao mundo Em 1930, Pio XI nomeou D. João Evangelista de Lima Vidal, Bispo de Vila Real, e antigo Bispo de Angola e Congo, primeiro Superior Geral da erigida Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas. Com a carta de nomeação, vinham prontas e aprovadas as Constituições da nova Sociedade, impressas na própria Tipografia Vaticana. Colégios das Missões transformavam-se, finalmente, na suspirada Sociedade Missionária – uma organização de padres e irmãos leigos consagrados por toda a vida às missões, e a viver em comunidade, quer em Portugal quer nos campos de missão. Estava, assim, fundada a Sociedade Missionária. Em 26 de Outubro de 1932, cinco jovens inauguravam, com o seu juramento, o edifício já feito que era a Sociedade Missionária das Missões Católicas Ultramarinas. (Ver a Mensagem do Papa Pio XI enviada ao D. João Evangelista de Lima Vidal, em anexo)
A sociedade não poderia avançar sem o apoio e segurança, que lhe vinham sobretudo de Roma. Pio XI, o Cardeal Pacelli (Secretário de Estado, e futuro Pio XII), muitos outros membros da Santa Sé, velavam carinhosamente pela consolidação da plantinha, humilde e continuamente ameaçada. Em Portugal, alguns bispos dispensavam-lhe todo o seu apoio cedendo temporariamente os seus sacerdotes para a formação dos novos missionários, que tinham como lema: partir da sua terra e ir ao encontro dos irmãos de longe, principalmente de África.
Em 13-03-1937, rumavam para Moçambique os primeiros cinco missionários (2 padres e três irmãos); em 28-05-1938, seguiam mais quatro. As levas continuaram depois. Começaram no sul de Moçambique (S.Paulo de Messano) mas logo foi o Norte da então Província a receber o entusiasmo daqueles jovens missionários. Santo António de Unango, Santa Teresinha de Mutuáli, S. Anta Filomena de Meconta, depois a cidade de Nampula, S.Luis de Gonzaga de Malatane, Ilha de Moçambique, Mecutamala, Murrupula, por adiante… Em 1951, retomou-se o trabalho no Sul: S. Pedro de Chissano, Chibuto, Fumane, Manique-Nique, Alto Changane…
3 - Bispos ao Leme D. João Evangelista de Lima Vidal, Bispo de Vila Real, com experiência missionária de Bispo nas terras de Angola e Congo, foi o seu primeiro Superior Geral. De 1940 a 1949, o segundo Superior Geral, D. Manuel Ferreira da Silva, foi ainda directamente escolhido pela santa Sé, e vinha da Arquidiocese de Goa. O terceiro Superior Geral (1949-1959), porém, escolhê-lo-ia a Santa Sé entre os membros do Instituto. Era o Pe. João Craveiro Viegas, um dos primeiros jurados de 1932 e um dos primeiros a embarcar para Moçambique em 1937. Levava doze anos de excelente trabalho missionário nas missões do Norte de Moçambique. A jovem Sociedade Missionária caminhava pelos seus pés, atingia a maturidade. Pequena e modesta, mas com a firmeza de quem sabe o caminho, e sente forças para o seguir. Consciente de que o missionário vai para suscitar e apoiar novas igrejas locais – enquanto elas precisarem dele.
4 – Uma Sociedade Missionária Sonhadora e Activa
Os seminários da Sociedade estavam cheios de alunos e de esperanças. Um vento novo soprava em Portugal, com os Cursos Missionários de Férias para seminaristas, com os Círculos Missionários, com o alarme de Pio XII a favor de África (Encíclica Fidei Donum,1957). Eram as Bodas de Prata da Sociedade, a ordenação de 9 padres, a sagração do primeiro Bispo (D. José dos Santos Garcia), a ida para mais uma diocese (Porto Amélia), a consciência de que Portugal precisava de uma motivação missionária de boa profundidade teológica e eclesial. Daí nasceram as Semanas de Estudos Missionários, a novidade local da revista Igreja e Missão. A arrojada construção do Seminário da Boa Nova (Valadares), a euforia conciliar, o entusiasmo incontido pela Missão, marcaram esse período particularmente optimista e sonhador. As missões aumentaram, a formação do clero indígena intensificou-se, as novas igrejas aproximavam-se da sua maturidade.
5 – Horizontes Novos
O Concilio Vaticano II abriu as janelas da igreja. Os apelos do Brasil chegaram precisamente com o Concílio. Angola, desde há anos que batia à porta. Em 1970, o primeiro grupo de três missionários parte para o Brasil e outro para Luanda. O Pe. Albano Mendes Pedro, chega a Luanda em 21 de Setembro de 1970. É-lhe pedido que fique a secretário da Conferência Episcopal e toma o cuidado pastoral da paróquia de Viana. Depois foram chegando até ao interior, sobretudo na Província do Kwanza –Sul.
No que a outros países diz respeito, os missionários da Sociedade chegaram à Zâmbia em Julho de 1980 e ao Japão em 1998.
Na Assembleia Geral de 1999, a Sociedade tomou o nome da Sociedade Missionária da Boa Nova. O nome “Boa Nova” já estava muito ligado á Sociedade. A revista “Boa Nova” de grande circulação nacional e não só, pertencia à Sociedade. O seu Seminário Maior, em Valadares – Portugal, tinha o nome de Boa Nova; uma associação de leigas missionárias ligadas à Sociedade e por estas fundadas tinha o nome de “Missionárias da Boa Nova” e o povo, primeiro em Angola e Brasil e, depois, em Portugal, começaram a olhar para os missionários como os mensageiros da Boa Nova de Jesus Cristo.
Veio também a internacionalização da Sociedade Missionária, que aceita membros dos Países onde os Missionários são enviados. Não fazia sentido que estes novos membros pertencessem a uma Sociedade Missionária Portuguesa, como, antes, comummente, se chamava.
Hoje os missionários da Boa Nova são portugueses, angolanos, brasileiros e moçambicanos.